Como celular de advogado morto em MT levou à descoberta de venda de sentenças e espionagem
O advogado Roberto Zampieri, de 57 anos, foi assassinado a tiros em 2023. As investigações sobre o crime revelaram um suposto esquema de venda de sentenças e...

O advogado Roberto Zampieri, de 57 anos, foi assassinado a tiros em 2023. As investigações sobre o crime revelaram um suposto esquema de venda de sentenças e a atuação de um grupo de espionagem. Roberto Zampieri, de 57 anos, foi assassinado no dia 5 de dezembro de 2023, em Cuiabá Reprodução As mensagens e arquivos encontrados no celular do advogado Roberto Zampieri, que foi morto a tiros dentro do próprio carro em Cuiabá em 2023, que revelaram o esquema de venda de sentenças e levaram à descoberta de uma organização criminosa empresarial envolvida com espionagem e assassinatos sob encomenda e com a participação de militares ativos e da reserva. Na época em que o celular de Zampieri foi apreendido, as mensagens extraídas do aparelho apontaram três servidores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) como integrantes do esquema criminoso. Em agosto do ano passado, os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho foram afastados por suspeita de envolvimento em vendas de decisões judiciais, após uma investigação da Polícia Civil de Mato Grosso. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MT no WhatsApp Há sete meses, cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul também foram afastados em razão de uma investigação que apura corrupção e venda de sentenças. Nesse mesmo período, um mandado de busca e apreensão foi cumprido pela Polícia Federal em um condomínio de luxo em Cuiabá como parte da Operação Ultima Ratio, que apurava corrupção e venda de sentenças no qual Zampieri foi considerado peça central no inquérito. Na operação da PF, o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves também foi preso por envolvimento no esquema de venda de sentenças. Ele está preso na Penitenciária Central do Estado (PCE) desde novembro de 2024. De acordo com as investigações, foram encontrados áudios de Andreson no celular de Roberto Zampieri, em que relata cobranças de pagamentos em aberto ao advogado. Durante as buscas, um notebook foi apreendido na casa do lobista. O lobista seria um dos responsáveis por aproximar Zampieri de desembargadores. Da esquerda à direita: os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, e o empresário Andreson Gonçalves Reprodução A investigação apontou ainda que uma disputa por terras envolvendo o advogado Roberto Zampieri teria motivado o assassinato. E foi durante a investigação sobre a morte do advogado, que a Polícia Federal descobriu a organização criminosa empresarial envolvida no esquema de espionagem e assassinatos encomendados. Cinco suspeitos foram presos nesta quarta-feira (28) em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. A ação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin. LEIA MAIS: Entenda como morte de advogado levou à descoberta de grupo de espionagem e 'caça' a comunistas O que se sabe sobre assassinato de advogado em MT que levou PF a investigar venda de sentenças e grupo de espionagem a ministros Entenda o caso Advogado é morto a tiros dentro de carro na frente de escritório em MT; vídeo Roberto Zampieri foi morto com 10 tiros dentro do próprio carro em frente ao escritório. Uma câmera de segurança registrou o momento do crime (veja acima). Nas imagens, é possível ver que ele foi surpreendido por um homem de boné, que disparou pelo vidro do passageiro, e fugiu em seguida. As equipes de socorro médico foram até o local, mas a vítima não resistiu aos ferimentos. O suspeito chegou a ficar cerca de uma hora aguardando a vítima sair do local. Saiba quem são os suspeitos Infográfico - Investigação revelou grupo de extermínio e esquema de vendas de sentença. Arte/g1 Da direita para à esquerda: Aníbal Manoel Laurindo, Coronel Luiz Caçadini, Antônio Gomes da Silva e Hedilerson Barbosa Reprodução Confira abaixo os nomes dos envolvidos na morte do advogado, de acordo com a Polícia Civil: Aníbal Manoel Laurindo (mandante); Coronel Luiz Caçadini (financiador); Antônio Gomes da Silva (atirador); Hedilerson Barbosa (intermediador, auxiliar do atirador e dono da pistola 9mm usada no assassinato); Gilberto Louzada da Silva (ainda não se sabe a função dele no grupo) Segundo a Polícia Civil, eles deverão responder por homicídio duplamente qualificado pela traição, por emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. Ainda de acordo com a polícia, outro agravante do crime foi o fato de ter sido praticado mediante pagamento ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe. Dinâmica do crime O suposto executor (Antônio Gomes) foi contratado pelo valor de R$ 40 mil. Já o intermediário (Hedilerson Barbosa), despachou uma pistola calibre 9 mm, registrada no próprio nome, para Cuiabá, no dia 5 de dezembro, mesma data do crime. O encontro entre o intermediador e o executor para entrega da arma ocorreu em um hotel, onde os dois ficaram hospedados na capital mato-grossense. Antônio Gomes teria ido até o escritório do advogado um dia antes de cometer o crime. Além disso, ele teria vigiado a vítima por 30 dias antes do assassinato. Zampieri foi morto com cerca de 10 tiros, dentro do próprio carro, em frente ao escritório em que trabalhava. O coronel do Exército Brasileiro Etevaldo Luiz Caçadini foi preso, em Belo Horizonte, Minas Gerais, suspeito de financiar a morte do advogado. O suspeito de atirar contra o advogado foi preso no dia 20 de dezembro, no município de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo o delegado, o homem confessou que atirou contra Roberto. Já o suspeito de ser o intermediário foi preso dois dias depois, também em Belo Horizonte. A motivação Segundo o delegado responsável pela investigação, Nilson Farias, foi verificado que existe uma demanda de duas fazendas em Paranatinga, a 411 km de Cuiabá, avaliadas em cerca de R$ 100 milhões, e que a perda dessas propriedades na Justiça teria levado Aníbal a mandar matar o advogado. Além disso, o mandante desconfiava de uma suposta aproximação de Zampieri com o desembargador do caso. A investigação apontou ainda que Roberto Zampieri era apenas o advogado do fazendeiro que pediu a terra de volta.